Natureza
Duas décadas de preservação
Símbolo da luta pela conservação ambiental, Pontal da Barra celebra 20 anos como reserva particular de patrimônio natural
Paulo Rossi -
Área de 65,3 hectares serve de habitat para dezenas de espécies, inclusive ameaçadas (Foto: Paulo Rossi)
Localizado em uma área entre as águas da Lagoa dos Patos e o canal São Gonçalo, o Pontal da Barra se transformou num símbolo da luta pela preservação do meio ambiente em Pelotas. Dentro de uma área considerada urbana do município, foi no dia 22 de setembro de 1999 que uma portaria do Ibama transformou uma área de 65,3 hectares em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), uma espécie de unidade de conservação privada.
Habitat de, pelo menos, 42 espécies ameaçadas de extinção, sendo 15 da fauna e 27 da flora, o local também tem importância histórica, social e econômica. Sítios arqueológicos, pescadores artesanais, propostas de educação ambiental, turismo e especulação imobiliária são algumas das questões que também habitam o território de reconhecida diversidade natural.
Algumas destas informações e outras estão em estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) que pode servir como base argumentativa para a criação da Unidade de Conservação Pontal da Barra do Laranjal, pela Secretaria de Qualidade Ambiental (SQA) do município. Uma comissão montada em março deste ano que envolve técnicos da prefeitura, de universidades federais da região e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente teve a última reunião em abril deste ano.
O próximo passo que, segundo informações da prefeitura, consiste na elaboração de dois projetos de lei para dar amparo legal à criação das unidades, ainda não tem previsão de ser redigido e encaminhado à Câmara de Vereadores. Por uma questão de agenda, o secretário Felipe Perez, da SQA, não pôde receber a reportagem na sexta-feira.
Unidade para ser preservada
A pesquisa lançada pela UFPel em 2019, que envolveu cerca de 40 pesquisadores de diferentes áreas, aumenta a área protegida de 65,3 hectares para 845,6 hectares. O estudo abrange a área costeira do município no canal São Gonçalo entre o Arroio Pelotas e a Lagoa dos Patos. Disponível no site da universidade, o trabalho mostra os potenciais científico, cultural, turístico e educacional da área.
Foram quase dois anos de pesquisa para a publicação do material que pode servir como base para transformação de uma área maior em uma Unidade de Conservação na categoria Proteção Integral - Refúgio de Vida Silvestre. O modelo, comenta a organizadora da pesquisa, a assistente social Silvia Carla Bauer Barcellos, permite que os pescadores não sejam removidos do local, além de estabelecer um plano de manejo para a área que possibilita inclusive a criação de animais.
"Se justifica pelo patrimônio genético, em perigo, além de outras vantagens, como projetos de educação ambiental, turismo e cultural", cita a organizadora. Um dos facilitadores para a criação da Unidade de Conservação, defendem os autores, trata-se do baixo número de proprietários da área, que seriam apenas quatro. Destes, dois são favoráveis à criação da unidade.
Ophiodes enso (cobra-de-vidro) - Única população conhecida da espécie está localizada no Pontal da Barra, onde mais de 50 indivíduos foram capturados em outubro de 2015 (Foto: Paulo Rossi)
Em defesa do meio ambiente
As iniciativas para a preservação ambiental da área começaram no final da década de 1980, quando ambientalistas e pesquisadores se posicionaram contra a implantação de um loteamento residencial no local. Apesar de parte ser considerada reserva pelo Ibama, as áreas de banhado permaneceram vulneráveis à ocupação e à especulação imobiliária.
O movimento deu origem ao grupo Pontal Vivo. Em 2012, foi apresentada uma Ação Civil Pública em defesa do Pontal da Barra, no Ministério Público Federal e na Procuradoria da República do Rio Grande do Sul. Ao mesmo tempo, diversas pesquisas foram desenvolvidas e mostram a importância ambiental da área. Entre os pesquisadores, destaca-se Giovanni Nachtigall Maurício, professor do curso de Gestão Ambiental da UFPel, que desenvolve trabalho na área desde 1987.
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